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[Sobre o Livre Livro Leve - na 3ª pessoa]



Considerando que “poesia” seja um estado de espírito, ao poeta cabe a delicada função de captar esta sensação e transformá-la em matéria, de modo a transmiti-la e possibilitar que outros também vislumbrem os sutis efeitos do sentimento humano. Para tanto, faz uso dos elementos que a linguagem dispõe e condensa o sumo de suas percepções acerca das coisas do mundo. Mas, para não correr o risco de reduzir a magnitude de que se mede a poesia em mero produto de que se limita a linguagem, o poeta segue experimentando gêneros distintos e formas improváveis entre si e tenta se conectar a terminais múltiplos por onde a essência poética seja canalizada.

Assim é o corpo de Livre Livro Leve, veículo que transpõe limites estéticos e reelabora vanguardas e tendências. Ao imitar escolas literárias e fazer uso de estruturas aparentemente já esgotadas, o livro mergulha em frios conceitos e referenciais teóricos para, ao emergir, revelar à tona os pequenos mistérios que permeiam a natureza poética, substância esta que nunca se esgota. Deste modo, a obra não se pauta à simples apropriação de gêneros – como o haicai ou o poema-processo – mas reutiliza-os como ferramentas primárias ao construir uma poesia viva e contemporânea, garimpando novos significados em velhas fórmulas. Também transcende limites ao investigar em outras áreas da linguagem qualquer vestígio de sentido poético, fazendo de suportes técnicos como o diagrama e a publicidade aparelhos capazes de conduzir lirismo tanto quanto a cadência de um soneto. Não obstante, é uma obra sem maiores pretensões se não a de ilustrar uma metáfora – ainda que rudimentar – para a condição humana em toda a sua caótica coerência.

Como resultado, a coletânea se define menos pela forma que possui ou conteúdo que aborda do que pela ideia que sugere: um organismo em constante movimento de busca. Um livro que, visto como um todo, não é feito só de palavras, mas principalmente de ação e experiência, tal qual a poesia que se manifesta na complexa dinâmica da vida.

qual a poesia que se manifesta na complexa dinâmica da vida.